O sistema de ensino aqui em Oxford é bastante flexível. Quer dizer, o meu sistema é totalmente flexível: como sou visiting student, sou eu que escolho as aulas e seminários a que quero assistir. Mas mesmo os alunos de mestrado e doutoramento da própria Universidade de Oxford têm imensas cadeiras optativas. Mas até aqui, e apesar do nosso sistema português ser muito mais compulsório, não se encontram grandes diferenças entre as duas realidades, porque as universidades portuguesas mais modernizadoras já dão aos alunos a possibilidade de escolherem algumas cadeiras.
A grande diferença está na forma como as aulas são dadas.
Em primeiro lugar, antes do período sequer começar, toda a gente que está inscrita numa cadeira recebe o programa, detalhado aula a aula, com uma lista de bibliografia importante para cada aula. Estas listas bibliográficas, em vez de conterem 30 obras para cada tema, como é costume fazer-se nas universidades portuguesas, indicam 4 ou 5 textos para cada sessão. São muito mais específicos, vão directos ao assunto... E são mesmo textos: quer dizer, quando se indica o título de um livro, especifica-se que capítulo será importante para tratar aquele tema concreto! Nada de ler o livro todo para, no fim, perceber que só o capítulo 4 é que interessava... Não há tempo a perder... Assim, não há ninguém que desmoralize e pense "com tanta coisa para ler, não vale a pena ler nada, porque não sei o que é realmente importante"... Até porque estas bibliografias não são ordenadas por ordem alfabética, mas sim por ordem de importância! Quem só tiver tempo para ler um texto, sabe que deve ler aquele que vem no primeiro lugar da lista!
Mas as aulas... Bom, as aulas são o oposto daquilo que temos em Portugal! É suposto os alunos lerem os tais textos indicados ANTES da aula em que esse tema vai ser tratado (o que só é possível, porque, ainda em férias, tiveram tempo para organizar tudo antecipadamente!) e a aula é uma discussão sobre o tema! O professor (e eu estou a frequentar aulas de professores que são grandes "barras" mundias de Filosofia e Teoria Política) orienta um pouco a discussão, mas é quase mais um de nós a debater o assunto... Nunca fala como se fosse detentor da verdade e os alunos chegam mesmo a dizer-lhe, por vezes, que não concordam com a interpretação que ele está a fazer! Comparem com a realidade portuguesa em que o professor diz o que tem a dizer, em geral não há discussão e apenas são colocadas algumas dúvidas, os textos sobre o tema são lidos a posteriori (geralmente nas vésperas dos exames...), as respostas nos testes têm que ir ao encontro daquilo que o professor espelhou na aula...
Aqui, aparentemente o sistema parece ser o seguinte: os alunos entram na sala 5 minutos antes da aula começar e têm tudo preparado para iniciar a aula à hora, o professor entra e já toda a gente está sentada à sua espera, o professor vem de sapatilhas e mochila e não com ar formal ou superior... Mas o mais surpreendente é ver que os alunos (que têm 21/22 anos, na maioria!) leram efectivamente os textos antecipadamente, apresentam uma opinião sobre os temas, pensaram sobre aquilo!
Aqui, de facto, aprende-se muito, mas aprende-se sobretudo a ser intelectualmente autónomo, a pensar livremente, a aceitar que os assuntos têm diferentes pontos de vista, sendo que o nosso não é superior ao de ninguém, mas também não é inferior apenas por sermos nós a assumi-lo...
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