Uma portuguesa partilha as experiências, alegrias e espantos vividos por terras de Sua Majestade...

segunda-feira, 13 de junho de 2011

O percurso da EPA Centre ao Lincoln College em imagens

Já disse antes que demoro cerca de 10 minutos a ir da minha residência ao meu colégio. Aqui vai a viagem em imagens.





Saio da minha residência...




... na Museum Road...





... corto à esquerda para a Park Road...





... chego à Broad Street e à minha frente tenho o edifício da Bodleian Library, a biblioteca que contém todas as obras publicadas em Inglaterra...



... à minha direita fica a Blackwell's, a maior livraria de Inglaterra...






... a seguir à Bodleian Library, sigo junto ao Sheldonian Theatre...





... e corto à esquerda na Turl Street, que é já a rua do meu colégio...





... o pináculo do Lincoln College avista-se logo ao dobrar a esquina...

terça-feira, 7 de junho de 2011

O meu quarto em imagens

a minha cama:



a secretária com que qualquer aluno de doutoramento sonha:



o meu armário gigante:




a minha casa-de-banho privativa:




a entrada:


terça-feira, 24 de maio de 2011

Um mês

Cheguei há exactamente um mês. Estou a adorar Oxford! Academicamente, dá-se um salto de gigante, mesmo em tão pouco tempo!
Mas, ao fim de um mês, já há coisas de que se sente falta (vou só falar de "coisas", e não de pessoas, para não melindrar ninguém - amanhã, teria metade da família e amigos zangados, simplesmente porque me havia esquecido de os referir...).
Sinto falta de peixe fresco e grelhado e sinto falta de bacalhau (e, não, bacalhau não é um "peixe", repito). E de azeite a temperar.
Sinto falta de dar dois beijinhos quando cumprimento alguém. Aqui, no máximo, dá-se um aperto de mão. Só dou dois beijinhos ao Orlando, colega portuga, com quem me encontro mais ou menos uma vez por semana. Em 5 semanas, dá um total de 10 beijinhos, portanto...
Sinto falta de uma refeição que dure mais de 10 minutos, à hora de almoço, e mais de meia-hora, ao jantar. Ganha-se em eficiência, é certo, mas ficam as saudades das horas passadas à mesa.
Sinto falta de uma esplanada (em que não chova e/ou gele). Maio já pede esplanada.
Sinto falta de dizer mal do país (aqui tenho que o elogiar, para não pensarem que somos totalmente Marrocos...). Do país, em geral, e dos políticos, em particular. Dizer mal do Sócrates, do Passos Coelho, do Portas e do Cavaco!
Mas do que sinto mais falta é de ver o mar. Nunca, em quase 29 anos, tinha passado um mês sem ver o mar. Mesmo quando viajei por bastante tempo, nunca estive exactamente um mês fora de Portugal. E mesmo nesses casos, acabei sempre por ver o mar algures. Aqui não... Um mês sem mar é muito, muito estranho...
No fundo, tenho saudades daquilo que em Portugal damos por garantido. E é de facto garantido. Mas aí :) Aqui, há outras coisas para serem valorizadas. Quanto a estas, ficam as saudades por mais um mês e pouco. E até poderia ser por um pouco mais :)

sábado, 21 de maio de 2011

Portugal é aqui!

Já disse que há quatro portugueses a trabalhar na cozinha do meu colégio. Há um deles que todos os dias me interpreta as opções do almoço (que é servido em self-service), porque metade têm queijo e também há sempre a opção vegetariana, mas são todas difíceis de identificar! E ele, que já sabe que eu odeio queijo e legumes, diz-me logo: "vaca", "perú"! E está feito!
Ontem disse-me: "Há peixe daqui a dois minutos!". E os meus olhos brilharam e deu-se o inevitável sorriso cúmplice. Claro que esperei os dois minutos! Esperava dez minutos por um prato de peixe - mesmo frito e com batatas fritas.
Mas hoje... hoje, foi o momento português no Lincoln College!
Ao sábado há sempre muito menos gente ao almoço do que durante a semana e, quando eu cheguei, já não havia ninguém na fila para o self-service. O rapaz português - cujo nome ainda não sei! - serviu-me como de costume e, como não estava nenhum colega na caixa, teve que lá ir ele... E eu tirei o meu cartão para passar no scanner, como sempre, para registar na conta que há-de chegar no final do trimestre... E ele olhou à volta... Estávamos sozinhos no self-service... E diz "Não é preciso! Vai-te embora, na boa!". E eu, de repente, senti-me totalmente em casa! E até me comovi! Portugal é isto mesmo. E soube tão bem... :)

Frase do dia

"O que Oxford pensa hoje, a Inglaterra pensará amanhã."
(revista Speaker, "Liberalism at Oxford", 1897)

E eu acrescento: o que a Inglaterra pensar amanhã, vamos todos pensar no dia seguinte...

quinta-feira, 19 de maio de 2011

I'm really in Britain! #5

O alarme de incêndio do meu quarto acabou de ser testado... Não passa uma semana que não o testem duas vezes...

Responsabilidade (ou qualquer outra coisa cujo nome eu desconheço...)

Conversa ouvida à hora do almoço, entre dois alunos do 2º ano da licenciatura em PPE (o curso que eu adoraria ter tirado: Politics, Philosophy and Economics):

"- Vamos sair hoje?
- Mas não querias sair na 6ª feira ou no sábado!?
- Sim... Podíamos sair hoje e depois no sábado...
- Queres sair duas noites esta semana?!
- Pois... Não dá, não é?
- Claro que não!
- Então, se calhar é melhor sairmos hoje, porque, se sairmos na 6ª ou no sábado, no dia seguinte dormimos até à hora do almoço... Perdemos a manhã toda sem estudar!
- Pois, se sairmos hoje, amanhã temos que nos levantar cedo para as aulas... Perdemos menos tempo.
- Saímos hoje, então!"

Os miúdos têm 20 anos... E, ainda assim, decidem que não podem sair duas noites na mesma semana... E preferem sair a meio da semana (aqui a noite acaba às 23h), do que ao fim-de-semana, para não perderem manhãs a dormir... E é com esta gente que temos que competir...

quarta-feira, 18 de maio de 2011

I'm really in Britain! #4

A luz do sol das 7h da tarde reflectida na Bodleian Library todos os dias me faz pensar que estou a viver um sonho...

sexta-feira, 13 de maio de 2011

As refeições

Para começar, devo dizer que jamais um inglês escreveria um post cujo título fosse "As refeições"! Simplesmente, porque as refeições não parecem ter muita importância para eles.
Há uns meses atrás, uma colega romena a viver em Portugal dizia-me que os portugueses têm uma relação muito afectiva com a comida. Ela tem toda a razão! Os portugueses são capazes de passar horas a discutir comida, são capazes de passar horas a fazer comida, são capazes de passar horas à mesa a comer. E aqui vai a minha teoria: deve ser esse o segredo da nossa esperança média de vida tão elevada!
O Lincoln College tem a melhor comida de Oxford. A sério, é mesmo boa (há 4 portugueses a trabalhar na cozinha!). Tem um problema grave, na minha opinião, que é nunca ter peixe (excepto fish and chips uma vez), muito menos bacalhau (e não, bacalhau não é um "peixe"...), mas isso é habitual em Inglaterra. Os portugueses é q se empanturram em peixe - e nunca mais me digam que comemos mal!
Ora, com uma cantina tão boa e ainda por cima barata (se lá almoçarmos e jantarmos, gastamos menos 7£ por dia), e dado que a maioria dos estudantes mora perto dela, seria normal que toda a gente lá fosse, certo? Errado! Há malta que prefere comer uma sandes nojenta, pelo mesmo preço, comprada no café da esquina... Sentam-se nos bancos ao lado da cantina a comê-la! OK, toda a gente come uma sandes nojenta de vez em quando. E é essa a escolha óbvia quando se tem 14, 15, 16 anos... Mas depois dos 20?! Essa atitude traduz precisamente o despreendimento dos ingleses pela comida. Eles são até capazes de comer a dita sandes a andar, para aproveitar o tempo...
A própria invenção do café num copo de papel para levar para fora do estabelecimento só pode ter tido origem aqui, nos EUA ou noutro país nórdico, onde a ideia de perder 5 minutos sentado num café a beber uma bica é aterradora! Eles bebem mesmo o café enquanto caminham, não sei como conseguem...
Aqui chegados, devo explicar que, no meu colégio, metade dos estudantes são britânicos, um quarto anglo-saxónicos (americanos, australianos, canadianos...) e um quarto de outras partes do mundo, sendo que a maioria são chineses (e não há um único latino, para além de mim). Ou seja, com tão pouca mistura, é relativamente fácil analisar os hábitos ingleses (anglo-saxónicos, vá...).
Continuando: mesmo quem vai comer à cantina, come tão rapidamente que me deixa estonteada. Quem me conhece sabe que eu sou uma comedora voraz (em quantidade e rapidez). Pois ficam a saber que, para padrões britânicos, sou uma "tartaruga" a comer... Eles sentam-se, comem e abandonam o local literalmente em menos de 10 minutos!!
Isto acontece principalmente à hora de almoço. Aliás, quando cheguei e perguntei a que horas é que os vários serviços fechavam à hora de almoço, nem perceberam o que eu estava a perguntar. Porque os serviços não fecham. Não é necessário, dado que o almoço é a dita sandes nojenta a andar, ou uma refeição mais normal, mas sugada em tempo record!
Mas também acontece ao jantar. No meu colégio há dois jantares: o primeiro é servido às 18.15h, o segundo às 19.15h (vá, agora gozem com os horários...). Em ambos é servida exactamente a mesma comida, por ambos se paga exactamente o mesmo. A única diferença é que o primeiro jantar é "informal" e o segundo jantar é "formal". O que é que isto quer dizer? O jantar formal é aquele onde todos temos que o usar a gown (toga), onde os fellows (professores) aparecem e jantam na high table (uma mesa num estrado ao fundo da sala). A toga de quem está na licenciatura é diferente da de quem está em mestrado ou doutoramento: na verdade são semalhantes mas as dos undergraduate students são mais curtas do que as nossas, graduates... são tipo mini-togas. Há ainda as togas dos investigadores, que têm mangas, ao contrário das nossas, e as togas dos fellows, que são compridas, com mangas... com tudo! Assim, nos distinguimos entre fatiotas pretas - que podem ser usadas por cima de uns calções e t-shirt.
Bom, mas além da vestimenta, no jantar formal, são acessas velas em candelabros ao longo das mesas e todo um ritual é cumprido: às 19.15h fecham-se as duas portas da sala (que, como já descrevi uma vez, está intacta desde há mais de um século, é toda forrada a madeira, tem vitrais e quadros antigos...), ouve-se um som tipo-bater-de-pau-de-teatro e todos nos levantamos. As portas abrem-se os fellows entram, atravessam a sala e dispõem-se em volta da sua high table. As portas da sala fecham-se e ali ficamos, só nós, alunos e professores. Um aluno diz uma oração em latim (para fomentar o "voluntariado" para a leitura da oração, o colégio oferece uma garrafa de vinho ao leitor, depois de ele se ter "oferecido" por três vezes para a ler...), no fim toda a gente diz "amén" e só depois disso nos sentamos. No final, os alunos só se podem levantar depois de o fellow que come à cabeceira da high table dar autorização para tal. Nessa altura, o mordomo que os serve abana um guardanapo braco, de cima do estrado, e quem já tiver acabo de comer já sabe que pode sair. É fantástico assitir a tudo isto, garanto-vos! É um filme em que somos espectadores e personagens ao mesmo tempo!
Claro que este jantar acaba sempre por ser mais demorado. Por isso mesmo, há o das 18.15h: para quem tem pressa e não quer perder tempo com rituais! Aliás, os dois jantares são servidos na mesma sala, nas mesmas mesas. Conseguem imaginar, em Portugal, um jantar para cerca de 100 pessoas, com de três pratos, servidos à mesa, demorar menos de 40 minutos, a ponto de depois de todos termos acabado, a sala ser limpa e preparada para o jantar que ocorre apenas uma hora depois? Não. Porque nós gostamos mesmo de estar à mesa. De comer e de beber. De falar enquanto comemos e bebemos. De perder tempo com a comida e a companhia à nossa frente. É uma cultura muito diferente.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Dos relvados às regras subentendidas

O Lincoln College tem três relvados (na verdade, tem quatro, mas o quarto é o jardim do reitor e o acesso está vedado aos alunos). Destes 3 relvados, dois (a que eles chamam quads porque, de facto, são quadrangulares) não se podem pisar. Nenhum deles tem vedação, nenhum tem nenhuma placa a proibí-lo. É assim, provavelmente porque sempre foi assim, e todos parecem sabê-lo de forma inata. E ninguém pisa a relva dos dois primeiros quads.
O terceiro relvado (o grove, que tem este nome precisamente por já não ser quadrado e ter algumas árvores num extremo) já pode ser pisado. Grupos de alunos sentam-se ali para conversar e comer (mesmo quando choveu há pouco e a relva está encharcada, mas aqui ninguém parece importar-se com isso...), mas ninguém joga aí qualquer jogo a não ser croquet. Nada de jogar futebol, nada de jogar às cartas... Porque só é permitido jogar croquet naquele relvado! E todos parecem sabê-lo também naturalmente.
O croquet é um "desporto" tão emocionante que faz o golfe parecer impróprio para cardíacos... Estive a assistir um pouco e perguntei sobre as regras. Aparentemente, ninguém liga muito às regras. Vão jogando como sabem, cada um um pouco à sua maneira.
Agora tentem imaginar todo este cenário em Portugal. Eu não consegui... ;)

segunda-feira, 9 de maio de 2011

As aulas

O sistema de ensino aqui em Oxford é bastante flexível. Quer dizer, o meu sistema é totalmente flexível: como sou visiting student, sou eu que escolho as aulas e seminários a que quero assistir. Mas mesmo os alunos de mestrado e doutoramento da própria Universidade de Oxford têm imensas cadeiras optativas. Mas até aqui, e apesar do nosso sistema português ser muito mais compulsório, não se encontram grandes diferenças entre as duas realidades, porque as universidades portuguesas mais modernizadoras já dão aos alunos a possibilidade de escolherem algumas cadeiras.
A grande diferença está na forma como as aulas são dadas.
Em primeiro lugar, antes do período sequer começar, toda a gente que está inscrita numa cadeira recebe o programa, detalhado aula a aula, com uma lista de bibliografia importante para cada aula. Estas listas bibliográficas, em vez de conterem 30 obras para cada tema, como é costume fazer-se nas universidades portuguesas, indicam 4 ou 5 textos para cada sessão. São muito mais específicos, vão directos ao assunto... E são mesmo textos: quer dizer, quando se indica o título de um livro, especifica-se que capítulo será importante para tratar aquele tema concreto! Nada de ler o livro todo para, no fim, perceber que só o capítulo 4 é que interessava... Não há tempo a perder... Assim, não há ninguém que desmoralize e pense "com tanta coisa para ler, não vale a pena ler nada, porque não sei o que é realmente importante"... Até porque estas bibliografias não são ordenadas por ordem alfabética, mas sim por ordem de importância! Quem só tiver tempo para ler um texto, sabe que deve ler aquele que vem no primeiro lugar da lista!
Mas as aulas... Bom, as aulas são o oposto daquilo que temos em Portugal! É suposto os alunos lerem os tais textos indicados ANTES da aula em que esse tema vai ser tratado (o que só é possível, porque, ainda em férias, tiveram tempo para organizar tudo antecipadamente!) e a aula é uma discussão sobre o tema! O professor (e eu estou a frequentar aulas de professores que são grandes "barras" mundias de Filosofia e Teoria Política) orienta um pouco a discussão, mas é quase mais um de nós a debater o assunto... Nunca fala como se fosse detentor da verdade e os alunos chegam mesmo a dizer-lhe, por vezes, que não concordam com a interpretação que ele está a fazer! Comparem com a realidade portuguesa em que o professor diz o que tem a dizer, em geral não há discussão e apenas são colocadas algumas dúvidas, os textos sobre o tema são lidos a posteriori (geralmente nas vésperas dos exames...), as respostas nos testes têm que ir ao encontro daquilo que o professor espelhou na aula...
Aqui, aparentemente o sistema parece ser o seguinte: os alunos entram na sala 5 minutos antes da aula começar e têm tudo preparado para iniciar a aula à hora, o professor entra e já toda a gente está sentada à sua espera, o professor vem de sapatilhas e mochila e não com ar formal ou superior... Mas o mais surpreendente é ver que os alunos (que têm 21/22 anos, na maioria!) leram efectivamente os textos antecipadamente, apresentam uma opinião sobre os temas, pensaram sobre aquilo!
Aqui, de facto, aprende-se muito, mas aprende-se sobretudo a ser intelectualmente autónomo, a pensar livremente, a aceitar que os assuntos têm diferentes pontos de vista, sendo que o nosso não é superior ao de ninguém, mas também não é inferior apenas por sermos nós a assumi-lo...

I'm really in Britain! #3

Estão 16 graus e chove. Toda a gente anda de t-shirt e ninguém usa chapéu-de-chuva. E eu, de cachecol, casaco e chapéu aberto sinto-me ridícula...

sábado, 7 de maio de 2011

A cultura do trabalho

Não tenho escrito tanto quanto gostaria, porque tenho trabalhado muito mais do que havia pensado... Aqui, aliás, todo o sistema está montado para se trabalhar!
Os colégios fornecem-nos (pagando, claro) refeições, se não quisermos perder tempo a cozinhar e lavar a louça (mas também temos cozinha equipada nas residências, no caso de preferirmos comer por casa). A maioria dos colégios são também bastante centrais, o que quer dizer que fácil e rapidamente vamos às compras ou tratamos de qualquer outro assunto e... podemos retomar o trabalho em breve. E todos têm bibliotecas e outras salas de estudo, caso não queiramos ficar todo o dia metidos no quarto a ler.
Mas as residências também têm lavandarias com máquinas de lavar e secar para que possamos tratar dessas miudezas da vida e voltar para o quarto no minuto seguinte e... continuar a trabalhar. Têm salas com computadores e impressoras, pelo que em 5 minutos saímos do conforto do quartinho (onde temos internet!), entramos na sala ao lado e imprimos o que tivermos que imprimir. E o tabalho continua!
Uma coisa interessante também é o facto de a conta enviada pelo Colégio, contendo o preço de todas as refeições, impressões, etc., de que usufruimos, vir apenas no final do trimestre. Não há nada, durante as 8 semanas lectivas, que nos distraia do nosso objectivo!
Mesmo os eventos sociais, que os há, estão organizados desde o início do trimestre para que possamos planear o trabalho de forma a estarmos presentes naqueles que nos interessam! Por exemplo, hoje vou ter uma festa noutra residência do meu Colégio, logo, há que adiantar tabalho hoje e amanhã à tarde, porque a manhã de domingo será certamente para dormir... ;)
Por tudo o que já tenho escrito, já deu para perceber que os Colégios, aqui, servem um pouco como a nossa casa. É lá que comemos, dormimos, podemos ter assistência médica, recebemos correspondência...
Por vezes, os colégios têm a parte residencial e todos os outros serviços no mesmo edifício. Noutros casos, o edifício do Colégio tem apenas os serviços administrativos e alguns dos outros serviços comunitários, mas depois possuem vários edifícios que servem de residência. Isto acontece particularmente nos Colégios mais antigos, como é o caso do Lincoln. Quando foi construído, no século XV, ninguém imaginava que viesse a ter 700 alunos ao mesmo tempo, no século XXI... :) Os Colégios mais modernos, pelo contrário, já foram construídos para congregar muitos alunos, pelo que quem aí vive tem o quarto e a cantina no mesmo edifício.
No caso do meu Colégio, então, dentro do próprio edifício medieval só residem os alunos que estão no primeiro ano da licenciatura - parece que é para a transição não ser tão brusca, pois sentem precisamente que continuam "em casa". Os do segundo ano, vivem num edifício mesmo em frente. Até que, ao nível de doutoramento, vivemos na maravilhosa residência em que me encontro, que é a mais distante (mas, simultaneamente, a mais recente e bem equipada), sendo que "distante" significa 10 minutos a pé... Ou seja, não há desculpas para perder tempo e... trabalhar!
Mas mesmo que as distâncias sejam um pouco maiores, toda a cidade está preparada para que se ande de bicicleta e, assim, se chegue mais rapidamente a qualquer lado. Não há uma única rua que não tenha uma ciclovia marcada à beira da estrada, encostada ao passeio! Vêem-se muito poucos carros - e, aliás, os que se vêem são relativamente antigos (para padrões portugueses, que trocam de carro de 5 em 5 anos...) e nunca especialmente caros (mais uma vez, para padrões portugueses, que, se for necessário, não comem para ter um grande carro).
Bom, mas a vida académica propriamente dita não se passa no Colégio. Ou não totalmente. Temos um tutor, que nos orienta nos trabalhos, mas que pode pertencer aos quadros do Colégio, ou não. E temos a maioria das aulas e seminários nos departamentos ou faculdades da área que estamos a estudar e não nos colégios.
Ou seja, um Colégio pode ter alunos de Matemática, de Filosofia, de Química, que se encontram na residência ou na cantina, mas que têm aulas com alunos de outros Colégios nos edifícios dos Departamentos de Matemática, Filosofia ou Química... Parece complicado, mas não é ;)
E também estes edifícios departamentais estão feitos para que se posso trabalhar o mais (e o melhor possível). Por exemplo, eu tenho aulas sobretudo no edifício que congrega os Departamento de Política, de Relações Internacionais, de Economia, de Direito, assim como a Biblioteca de Ciências Sociais, que é a aquela a que eu recorro, claro - e até agora têm tido todos os livros de que necessitei.
No fundo, se o Lincoln College é a minha casa o Manor Road Building é o meu local de trabalho e ambos estão organizados, toda a cidade está organizada, para que eu trabalhe bué! E é, então, o que tenho feito...

quarta-feira, 4 de maio de 2011

I'm really in Britain! #2

Pela primeira vez, comi fish and chips num pub inglês! A acompanhar com uma corona com limão, claro :)

terça-feira, 3 de maio de 2011

O pior de se estar longe de casa é o facto de poderem acontecer coisas graves e nós não podermos fazer nada para as impedir, nem sequer para ajudar a resolvê-las... Sentimos a impotência total... Nem sequer sabemos se o que nos contam corresponde exactamente à verdade ou se a situação é bem mais grave e estão simplesmente a esconder-nos os factos!
Hoje é isso que está a acontecer... Eu jantava, enquanto em Portugal tudo se passava sem que eu soubesse de nada... Eu bebia vinho tinto português e discutia a política da Índia, num jantar de 15£, enquanto o meu mundo podia estar a desmoronar-se a cerca de 2000 km de distância!
Espero que estejas a dizer-me a verdade, que tudo tenha solução... Espero que vocês estejam à minha espera quando eu chegar, daqui a 2 meses... Só faltam 2 meses! Diz-lhe... Diz-me... por favor...

segunda-feira, 2 de maio de 2011

sábado, 30 de abril de 2011

Primeiras diferenças...

Hoje, pela primeira vez, não usei cachecol, troquei o casaco de inverno por um menos quente e saí sem guarda-chuva. Claro que os ingleses andam todos de t-shirt como se o tempo estivesse espectacular... mas dizer-lhes que 17 graus não é nada de especial seria mauzinho da minha parte!
Os ingleses - vamos generalizar! - têm algumas coisas bastantes estranhas, aliás... Por exemplo, não se vê ninguém falar ao telemóvel! Mas esta gente não tem vida social e familiar para programar? Ou simplesmente fazem-no sozinhos, fechados numa sala, sem que ninguém esteja a olhar? OK, pode ser só uma questão de educação.
Também se vê muito pouca gente a ouvir i-pod na rua... Será que a Apple só vende para Portugal?! Aqui, na verdade, as poucas pessoas que vi com headphones iam a fazer jogging... Ora, eu já nem imagino o que seja andar no metro em Lisboa sem música, por exemplo! Também é uma questão de educação?
Há outras coisas estranhas: falam muito sobre trabalho, mas muito pouco sobre a sua vida real. (A vida real deles é o trabalho?) Quer dizer, não há cá intimidades para ninguém! E por intimidades entendam-se coisas tão simples como ter um cão ou um gato, ou ter saudades de casa ou não... Não volto a perguntar, prometo!
Mas aquilo que me tem feito mais confusão é a transição "simpatia/eficiência" para a "indiferença" no momento em que o "dever" termina. Quer dizer, são inexedíveis enquanto estão a desempenhar a função que é esperado que desempenhem! São fantásticos mesmo! Mas no segundo a seguir a terminarem essa função, a conversa acaba e dizem adeus com a maior naturalidade.
Por exemplo, tive um problema com o acesso à intenet no meu quarto. Fui ter com o técnico de informática (é excelente ter um técnico a quem recorrer, claro!), que foi uma simpatia. Mas mal terminou de configurar o que era necessário, devolveu-me o portátil para as mãos - ainda ligado - e continou a trabalhar no que estava a fazer antes de eu o ter interrompido. Claro que mo devolveu com um sorriso! Mas... Percebem?
Na quinta-feira passada fui sair com outros alunos do Colégio. No final, na altura em que o grupo decidiu que era hora de ir embora, disse ao rapaz com quem estava a falar para esperar um minuto por favor, que eu ia só à casa de banho. O que é que aconteceria em Portugal? Todo o grupo esperava, até porque seria suposto despedirmo-nos todos uns dos outros, e principalmente porque grande parte do grupo viria para a mesma residência que eu, logo, viriamos todos juntos. Certo?
Bom, quando voltei do WC estava o pobre rapaz à minha espera, de facto... Mas mais ninguém! Perguntei pelos outros. Tinham ido embora. O rapaz - que, vejo eu agora, deve ter achado estranhíssimo eu ter-lhe pedido para esperar por mim! - não mora na mesma residência que eu, pelo que fiz metade do caminho sozinha, quando 2 minutos à minha frente seguia grande parte do grupo... Isto não tem lógica, pois não? Claro que, durante toda a noite, foram todos very friendly! Simplesmente, eles pensam, sentem e agem de maneira diferente. É o verso da medalha da simpatia e da eficência. Não há povos perfeitos, portanto...

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Saudades?

Comovi-me quando vi garrafas de vinho do Porto numa prateleira do Tesco... Comovi-me quando numa televisão, num bar, faziam zapping e pude assistir ao livre do Carlos Martins, no jogo do Benfica contra o Braga... Comovi-me quando vi garrafas de Mateus Rosé no Salsbury's... Comovi-me quando vi Pessoa (traduzido) numa montra de uma livraria... Comovi-me quando de raspão ouvi falar português, embora com sotaque do Brasil... Saudades deve ser isto... E talvez só se perceba realmente o quanto se gosta de Portugal quando se sai do país...

quinta-feira, 28 de abril de 2011

A Residência

EPA Centre é como se chama a minha residência.

O Lincoln College conta com vários edifícios para alojar os seus alunos. Todos os outros são mais próximos do colégio, mas este foi construído em 2005, o que quer dizer que tem todas as comodidades modernas. Além disso, está a menos de 15 minutos a pé do Colégio. Ou seja, é muito central! É esta a razão, aliás, por que a maioria dos alunos do Lincoln não tem bicicleta, ao contrário dos dos outros colégios: as nossas residências, o colégio e os principais serviços (nomeadamente, as bibliotecas e o Tesco...) estão a curtas distâncias, que se fazem mais rapidamente a pé do que numa bicicleta...
E, sim, o meu quarto é óptimo! Tem WC privativo, recebe imensa luz do sol, tem uma secretária gigante que faria inveja a qualquer estudante de doutoramento...

A residência está dividida em pequenos apartamentos. Cada apartamento tem 3 quartos como o meu e uma cozinha comum aos 3 alunos. A cozinha seria óptima e a ideia de a partilhar apenas com duas pessoas não seria nada má, se... não se desse o caso de eu ter um apartment mate que acha que a louça que usa não é para lavar e que o frigorífico é todo para ele!!! Enfim, já que a cantina do Colégio é realmente boa, vou fazer o máximo por comer todas as refeições fora...

Mais uma vez, aqui ficam uma imagem sacadas da net. Infelizmente não há nenhuma do interior dos quartos...


EPA Centre:



O Colégio

Ora bem, vamos começar pelo mais importante: o Lincoln College é um sonho, a minha residência é considerada a mais luxuosa de Oxford, a cantina do colégio tem fama de ser a melhor da Universidade e a "associação de estudantes" organiza eventos sociais em série!




Para já, o colégio! O edifício data do século XV e mantém-se em funcionamento desde então até hoje. É fantástico como a "modernidade" foi sendo acrescentada... Imaginem subirem uma estreita escada em caracol de uma das torres e, de repente, passarem desse cenário medieval para um outro onde transborda a tecnologia, pois no topo da torre fica nada mais nada menos do queo departamento de informática!

Aliás, o edifício é tudo aquilo que se espera de um colégio em Oxford: super-central, numa rua estreitinha, com um jardim quadrado na entrada e um pináculo a impôr-se no horizonte...
A rua é a Turl Street, paralela à Bodleian Library (que conta, na sua colecção, com todos os livros alguma vez publicados no Reino Unido) e perpendicular à High Street (não é preciso explicar, pois não?).

O jardim da entrada é apenas um dos três que se vão sucedendo à medida que percorremos os corredores da Idade Média semi-fechados/semi-ao ar livre... Mas só num deles podemos sentar-nos na relva. E toda a gente cumpre, claro!

Na verdade, uma vez cruzado o portão de entrada do Lincoln, as surpresas vão-se sucedendo. Por exemplo, o Hall, a sala que serve de cantina - a tal que é óptima, eu confirmo -, sofreu algumas alterações, mas desde o século XIX que se mantém como é hoje! Usada diariamente! E parece que estamos a jantar num filme de época.

A antiga capela foi transformada em Biblioteca no século XX. Quando lá entrei a primeira vez fiquei abismada! Mesmo depois de ter ido à Bodleian, continuei a ficar abismada de cada vez que lá entrei... É o pináculo desta ex-capela que se vê à distância!

Tudo isto faria mais sentido se fosse lido acompanhado de fotos... Pois, mas a minha máquina está sem bateria e não trouxe o carregador!!! Terei que esperar pelas visitas para poder tirar fotografias... Mas aqui estão algumas imagens que tirei na net, para seguirem o que vou dizendo:


aqui está uma visão panorâmica do Colégio:





aqui o jardim frontal, a primeira coisa que se vê assim que se espreita do portão:




aqui o segundo jardim, com a actual capela ao fundo:




aqui o Hall, ou seja, a cantina:


e aqui a ex-capela/actual biblioteca:




quinta-feira, 21 de abril de 2011

A simpatia do Lincoln College

Já elogiei a origanização britânica. Mas, confesso, ainda não deixou de me surpreender - e ainda estou em Portugal! Aliás, mais do que a organização, o que me tem deixado agradavelmente surpreendida é a simpatia com que uma mera visiting student portuguesa (eu, pois) é tratada pelo staff de um dos mais antigos Colégios da Universidade de Oxford.
É verdade, ainda não cheguei e já me sinto recebida com a maior afectividade por parte de todos os elementos do Lincoln College com quem já troquei e-mails. Imaginem que até já recebi um e-mail do secretariado encarregue da organização de eventos sociais a dizer que era muito bem-vinda e que contavam comigo para os próximos eventos!
Para não falar, claro, do facto de já ter o primeiro encontro marcado com a minha tutora para o dia seguinte à minha chegada, ou do facto de ter um kit de roupa de cama reservado para mim, à minha espera... Ou de saber exactamente os nomes das pessoas que tenho de contactar à chegada e quais os assuntos que cada uma delas irá resolver. Já sei quem me entregará a chave do quarto, quem me entregará o cartão da biblioteca... Tudo isto tratado com uma simpatia tal que faz parecer que eles se sentem muito orgulhosos por me receber!!
Esta atitude faz-nos sentir tão seguros e felizes... Seria tão melhor se, em Portugal, também fossemos assim... Infelizmente, achamos que ser simpático é ser subserviente, que ser humilde é humilhante... Esta simpatia do Lincoln College tem-me feito pensar nisto. É uma pena não sermos mais assim...

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Antes da partida

A organização britânica impressiona desde muito antes de aterrarmos em Heathrow... Com três meses de antecedência já sei em que residência vou ficar alojada, como será o meu quarto, a quem me devo dirigir à chegada a Oxford, qual a distância que separa o alojamento do Colégio... Já recebi e-mails de quatro pessoas diferentes, cada uma encarregue de um assunto específico, todas a trabalhar em rede. Esclarecem todas as minhas dúvidas e quase que os sinto felizes, via monitor de PC, por o poderem fazer.
Pedem-me tão poucos dados pessoais que desconfio... Será que é mesmo possível fazer o que quer que seja sem indicar o número de contribuinte?!
O formulário de inscrição tem um campo para escrevermos o nome por que preferimos ser tratados. A partir do momento em que o envio, toda a gente passa a tratar-me por Rita. Nada de Ana, nada de Ana Rita, nada de Ana Rita Ferreira, muito menos Dra, que este não é um país cheio de complexos de inferioridade... Rita apenas - pois se foi assim que eu disse preferir ser chamada!
Enviaram-me um mapa da Google com todas as indicações! Juro! Demoro 13 minutos da Museum Road, onde fica a residência de estudantes, à Turl Street, sede do Lincoln College. On foot, claro.
E confiam naquilo que lhes digo sem me pedirem nenhum comprovativo em troca: se afirmo que já fiz a transferência bancária é porque já fiz a transferência bancária. Eu, tuga, envio cópia do recibo (escrito em português...) para garantir que nada atrapalhará a reserva do meu quarto por mais duas semanas para além do período lectivo - quero chegar uma semana antes do início do term e voltar uma semana depois das aulas terminarem e esse extra é pago do meu bolso. Dizem-me que there was no need... Devem confirmar eles próprios no extrato da conta deles, pois... Sem que eu me aborreça com nada, pois... Aliás, no tal formulário de inscrição tive que colocar o nº do BI, mas nem pensar em enviar cópia! Eles acreditam em mim, não parte do princípio de que estou a mentir... Que estranho...