Uma portuguesa partilha as experiências, alegrias e espantos vividos por terras de Sua Majestade...

sábado, 30 de abril de 2011

Primeiras diferenças...

Hoje, pela primeira vez, não usei cachecol, troquei o casaco de inverno por um menos quente e saí sem guarda-chuva. Claro que os ingleses andam todos de t-shirt como se o tempo estivesse espectacular... mas dizer-lhes que 17 graus não é nada de especial seria mauzinho da minha parte!
Os ingleses - vamos generalizar! - têm algumas coisas bastantes estranhas, aliás... Por exemplo, não se vê ninguém falar ao telemóvel! Mas esta gente não tem vida social e familiar para programar? Ou simplesmente fazem-no sozinhos, fechados numa sala, sem que ninguém esteja a olhar? OK, pode ser só uma questão de educação.
Também se vê muito pouca gente a ouvir i-pod na rua... Será que a Apple só vende para Portugal?! Aqui, na verdade, as poucas pessoas que vi com headphones iam a fazer jogging... Ora, eu já nem imagino o que seja andar no metro em Lisboa sem música, por exemplo! Também é uma questão de educação?
Há outras coisas estranhas: falam muito sobre trabalho, mas muito pouco sobre a sua vida real. (A vida real deles é o trabalho?) Quer dizer, não há cá intimidades para ninguém! E por intimidades entendam-se coisas tão simples como ter um cão ou um gato, ou ter saudades de casa ou não... Não volto a perguntar, prometo!
Mas aquilo que me tem feito mais confusão é a transição "simpatia/eficiência" para a "indiferença" no momento em que o "dever" termina. Quer dizer, são inexedíveis enquanto estão a desempenhar a função que é esperado que desempenhem! São fantásticos mesmo! Mas no segundo a seguir a terminarem essa função, a conversa acaba e dizem adeus com a maior naturalidade.
Por exemplo, tive um problema com o acesso à intenet no meu quarto. Fui ter com o técnico de informática (é excelente ter um técnico a quem recorrer, claro!), que foi uma simpatia. Mas mal terminou de configurar o que era necessário, devolveu-me o portátil para as mãos - ainda ligado - e continou a trabalhar no que estava a fazer antes de eu o ter interrompido. Claro que mo devolveu com um sorriso! Mas... Percebem?
Na quinta-feira passada fui sair com outros alunos do Colégio. No final, na altura em que o grupo decidiu que era hora de ir embora, disse ao rapaz com quem estava a falar para esperar um minuto por favor, que eu ia só à casa de banho. O que é que aconteceria em Portugal? Todo o grupo esperava, até porque seria suposto despedirmo-nos todos uns dos outros, e principalmente porque grande parte do grupo viria para a mesma residência que eu, logo, viriamos todos juntos. Certo?
Bom, quando voltei do WC estava o pobre rapaz à minha espera, de facto... Mas mais ninguém! Perguntei pelos outros. Tinham ido embora. O rapaz - que, vejo eu agora, deve ter achado estranhíssimo eu ter-lhe pedido para esperar por mim! - não mora na mesma residência que eu, pelo que fiz metade do caminho sozinha, quando 2 minutos à minha frente seguia grande parte do grupo... Isto não tem lógica, pois não? Claro que, durante toda a noite, foram todos very friendly! Simplesmente, eles pensam, sentem e agem de maneira diferente. É o verso da medalha da simpatia e da eficência. Não há povos perfeitos, portanto...

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Saudades?

Comovi-me quando vi garrafas de vinho do Porto numa prateleira do Tesco... Comovi-me quando numa televisão, num bar, faziam zapping e pude assistir ao livre do Carlos Martins, no jogo do Benfica contra o Braga... Comovi-me quando vi garrafas de Mateus Rosé no Salsbury's... Comovi-me quando vi Pessoa (traduzido) numa montra de uma livraria... Comovi-me quando de raspão ouvi falar português, embora com sotaque do Brasil... Saudades deve ser isto... E talvez só se perceba realmente o quanto se gosta de Portugal quando se sai do país...

quinta-feira, 28 de abril de 2011

A Residência

EPA Centre é como se chama a minha residência.

O Lincoln College conta com vários edifícios para alojar os seus alunos. Todos os outros são mais próximos do colégio, mas este foi construído em 2005, o que quer dizer que tem todas as comodidades modernas. Além disso, está a menos de 15 minutos a pé do Colégio. Ou seja, é muito central! É esta a razão, aliás, por que a maioria dos alunos do Lincoln não tem bicicleta, ao contrário dos dos outros colégios: as nossas residências, o colégio e os principais serviços (nomeadamente, as bibliotecas e o Tesco...) estão a curtas distâncias, que se fazem mais rapidamente a pé do que numa bicicleta...
E, sim, o meu quarto é óptimo! Tem WC privativo, recebe imensa luz do sol, tem uma secretária gigante que faria inveja a qualquer estudante de doutoramento...

A residência está dividida em pequenos apartamentos. Cada apartamento tem 3 quartos como o meu e uma cozinha comum aos 3 alunos. A cozinha seria óptima e a ideia de a partilhar apenas com duas pessoas não seria nada má, se... não se desse o caso de eu ter um apartment mate que acha que a louça que usa não é para lavar e que o frigorífico é todo para ele!!! Enfim, já que a cantina do Colégio é realmente boa, vou fazer o máximo por comer todas as refeições fora...

Mais uma vez, aqui ficam uma imagem sacadas da net. Infelizmente não há nenhuma do interior dos quartos...


EPA Centre:



O Colégio

Ora bem, vamos começar pelo mais importante: o Lincoln College é um sonho, a minha residência é considerada a mais luxuosa de Oxford, a cantina do colégio tem fama de ser a melhor da Universidade e a "associação de estudantes" organiza eventos sociais em série!




Para já, o colégio! O edifício data do século XV e mantém-se em funcionamento desde então até hoje. É fantástico como a "modernidade" foi sendo acrescentada... Imaginem subirem uma estreita escada em caracol de uma das torres e, de repente, passarem desse cenário medieval para um outro onde transborda a tecnologia, pois no topo da torre fica nada mais nada menos do queo departamento de informática!

Aliás, o edifício é tudo aquilo que se espera de um colégio em Oxford: super-central, numa rua estreitinha, com um jardim quadrado na entrada e um pináculo a impôr-se no horizonte...
A rua é a Turl Street, paralela à Bodleian Library (que conta, na sua colecção, com todos os livros alguma vez publicados no Reino Unido) e perpendicular à High Street (não é preciso explicar, pois não?).

O jardim da entrada é apenas um dos três que se vão sucedendo à medida que percorremos os corredores da Idade Média semi-fechados/semi-ao ar livre... Mas só num deles podemos sentar-nos na relva. E toda a gente cumpre, claro!

Na verdade, uma vez cruzado o portão de entrada do Lincoln, as surpresas vão-se sucedendo. Por exemplo, o Hall, a sala que serve de cantina - a tal que é óptima, eu confirmo -, sofreu algumas alterações, mas desde o século XIX que se mantém como é hoje! Usada diariamente! E parece que estamos a jantar num filme de época.

A antiga capela foi transformada em Biblioteca no século XX. Quando lá entrei a primeira vez fiquei abismada! Mesmo depois de ter ido à Bodleian, continuei a ficar abismada de cada vez que lá entrei... É o pináculo desta ex-capela que se vê à distância!

Tudo isto faria mais sentido se fosse lido acompanhado de fotos... Pois, mas a minha máquina está sem bateria e não trouxe o carregador!!! Terei que esperar pelas visitas para poder tirar fotografias... Mas aqui estão algumas imagens que tirei na net, para seguirem o que vou dizendo:


aqui está uma visão panorâmica do Colégio:





aqui o jardim frontal, a primeira coisa que se vê assim que se espreita do portão:




aqui o segundo jardim, com a actual capela ao fundo:




aqui o Hall, ou seja, a cantina:


e aqui a ex-capela/actual biblioteca:




quinta-feira, 21 de abril de 2011

A simpatia do Lincoln College

Já elogiei a origanização britânica. Mas, confesso, ainda não deixou de me surpreender - e ainda estou em Portugal! Aliás, mais do que a organização, o que me tem deixado agradavelmente surpreendida é a simpatia com que uma mera visiting student portuguesa (eu, pois) é tratada pelo staff de um dos mais antigos Colégios da Universidade de Oxford.
É verdade, ainda não cheguei e já me sinto recebida com a maior afectividade por parte de todos os elementos do Lincoln College com quem já troquei e-mails. Imaginem que até já recebi um e-mail do secretariado encarregue da organização de eventos sociais a dizer que era muito bem-vinda e que contavam comigo para os próximos eventos!
Para não falar, claro, do facto de já ter o primeiro encontro marcado com a minha tutora para o dia seguinte à minha chegada, ou do facto de ter um kit de roupa de cama reservado para mim, à minha espera... Ou de saber exactamente os nomes das pessoas que tenho de contactar à chegada e quais os assuntos que cada uma delas irá resolver. Já sei quem me entregará a chave do quarto, quem me entregará o cartão da biblioteca... Tudo isto tratado com uma simpatia tal que faz parecer que eles se sentem muito orgulhosos por me receber!!
Esta atitude faz-nos sentir tão seguros e felizes... Seria tão melhor se, em Portugal, também fossemos assim... Infelizmente, achamos que ser simpático é ser subserviente, que ser humilde é humilhante... Esta simpatia do Lincoln College tem-me feito pensar nisto. É uma pena não sermos mais assim...